Eletroconvulsoterapia é aliada no tratamento de depressão grave

Cérebro e eletroconvulsoterapia

A depressão e a ansiedade são assuntos tão importantes que existem duas campanhas específicas sobre elas durante o ano: Janeiro Branco – mês especial para os cuidados com a saúde mental – e Setembro Amarelo – de prevenção ao suicídio. As duas condições estão entre as que mais afetam a população mundial e, por isso, exigem tratamento. A eletroconvulsoterapia (ECT) é uma alternativa, principalmente em casos graves de depressão.

O que é a Eletroconvulsoterapia?

A eletroconvulsoterapia é um método terapêutico que usa impulsos elétricos cerebrais para gerar melhora clínica no paciente. O procedimento foi desenvolvido na Itália, em 1938, muito antes da existência dos psicofármacos. “Até 1952, não existiam os medicamentos antidepressivos – o único tratamento efetivo para os transtornos mentais na época era este”, conta o Prof. Dr. José Gallucci Neto, médico psiquiatra e diretor da unidade de vídeo EGG do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (IPq).

Como tudo na medicina, a eletroconvulsoterapia vem se aprimorando ao longo dos anos, principalmente em função dos efeitos colaterais que a técnica apresentava no início e dos riscos eminentes ao estímulo elétrico. “Hoje, a eletroconvulsoterapia é feita sempre em ambiente hospitalar sob anestesia geral de curta duração e com uso de relaxantes musculares”, destaca Dr. Gallucci.

Eletroconvulsoterapia no Brasil e os estigmas

O termo “tratamento por meio de estímulos elétricos” muitas vezes faz com que as pessoas se lembrem de antigos meios de tortura usados na ditadura militar no Brasil, além do mal-uso dentro de antigos hospitais psiquiátricos. O movimento antimanicomial, apesar da sua importância, acabou criando uma grande resistência ao procedimento.

“Na Itália, por exemplo, ainda há muito estigma, e é um dos países da Europa que menos faz procedimento de eletroconvulsoterapia, enquanto países nórdicos, como Suécia, Dinamarca e Finlândia, são os que mais fazem. O Brasil também é um dos países com menos uso”, conta o professor.

A eletroconvulsoterapia é um procedimento que precisa ser feito com o consentimento do paciente ou da família. Se for um caso muito grave, a família pode autorizar o tipo de tratamento. “O paciente precisa fazer uma avaliação anestésica e clínica, em que são realizados exames complementares – eletrocardiograma, exame de sangue – para que o procedimento seja feito com segurança. Todo paciente que é indicado para este tipo de tratamento precisa fazer essa avaliação clínica antes”, explica.

Como funciona a ECT

O procedimento é indolor, já que o paciente recebe anestesia geral, e é rápido: a eletroconvulsoterapia pode durar de 4 a 8 segundos. Os efeitos colaterais imediatos podem ser dor de cabeça e dificuldade de memória temporária.

eletroconvulsoterapiaPacientes internados ou ambulatoriais também podem receber este tipo de tratamento. “A técnica moderna, com anestesia e controle dos parâmetros, reduziu muito os efeitos colaterais nas últimas décadas. É um procedimento muito seguro e, o mais importante, o mais eficaz para tratar depressão grave, catatonia e esquizofrenia refratária”, comenta o Prof. Gallucci.

Os pacientes com quadros de depressão grave, que não respondem a nenhum tratamento, e na maioria das vezes estão incapacitados (não conseguem se autocuidar ou trabalhar), podem ter uma melhora superior em comparação ao uso de antidepressivo. Eles até voltam a ter uma vida próxima ao normal. “Pacientes catatônicos, que não conseguiam se alimentar, andar ou fazer as necessidades fisiológicas sozinhos, voltam a conversar e interagir. Pacientes com esquizofrenia melhoram os sintomas de delírio e alucinação”, diz o Professor.

No geral, há poucas contraindicações, e a eletroconvulsoterapia costuma ser bem tolerada e segura para os pacientes. Além disso, ela é muito efetiva na população idosa com doenças graves. “A maioria das contraindicações é relativa, mas está ligada à presença de lesões cerebrais que aumentam a pressão intracraniana, ou problemas como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou tumor cerebral recente”, orienta.

Hospital das Clínicas é referência em Eletroconvulsoterapia

Há décadas o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas oferece a eletroconvulsoterapia para o tratamento de pacientes com depressão grave. “Nós fazemos 30 procedimentos por dia, e o HCFMUSP é um dos maiores centros de eletroconvulsoterapia do mundo”, conclui o especialista.

Dr. José Gallucci Neto também é coordenador da especialização em Psiquiatria Intervencionista, curso hands-on lançado em 2021 e focado no ensino de técnicas como a própria ECT, a Estimulação Elétrica Transcraniana (EET) e a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT). Médicos interessados podem saber mais informações sobre a pós-graduação diretamente no site do HCX.