Exercício físico e dislipidemia

Mulher praticando atividade física para evitar dislipidemia

A dislipidemia é uma das principais causas modificáveis da doença cardiovascular (DCV) sendo reconhecida a importância da modificação do estilo de vida para o seu tratamento. Com a pandemia da COVID-19, os níveis de sedentarismo e inatividade física aumentaram em todo o mundo. Novos dados do VIGITEL 2020 apontaram que 47,2% da população não alcançaram um nível suficiente de prática de atividade física para atingir seus benefícios. 

Um estilo de vida ativo é fundamental para a saúde do coração e importante para o controle de outros fatores de risco de DCV, com destaque às atividades físicas como medida de auxílio no controle das dislipidemias e tratamento da doença coronariana. Cabe aqui exemplificar que todo exercício físico é uma atividade física, mas nem toda atividade física é um exercício físico. Ou seja, o exercício físico é um tipo de atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem o objetivo de melhorar ou manter as capacidades físicas e o peso adequado.

O treinamento físico pode trazer efeitos importantes no controle da dislipidemia. Em síntese, podemos apontar a redução dos triglicérides e da relação HDL/Colesterol Total, manutenção ou redução do colesterol total, do colesterol “ruim” – LDL, e do VLDL e aumento das moléculas do “bom” colesterol – HDL, com o treinamento. Porém, é evidente na literatura diferentes respostas entre os estudos que podem ser atribuídas principalmente a diferentes populações, intensidade e duração.

Apesar do treinamento físico não apontar alterações importantes no colesterol “ruim”- LDL, maiores volumes e intensidade podem reduzir de maneira expressiva as moléculas de menor densidade do LDL e contribuir com a redução da oxidação sendo isto extremamente relevante. Um estudo realizado por pesquisadores do InCor demonstrou que praticar exercícios físicos regularmente modifica a estrutura do LDL tornando-o menos nocivo, mesmo que não haja redução nos níveis medidos. Os autores constataram que os níveis de colesterol total, LDL e HDL não mudaram após o treinamento. No entanto, as taxas de triglicerídeos caíram e a resistência à oxidação do LDL aumentou, além das moléculas de LDL que também ficaram maiores e menos densas. Outro interessante estudo apontou redução da atividade de oxidação do LDL após dez semanas de treinamento aeróbico em indivíduos hipercolesterolêmicos. Os dados anteriores apontam que o treinamento físico pode trazer alterações importantes no padrão e tamanho das moléculas de LDL, além da redução de sua oxidação de forma a conferir fator protetivo à doença coronariana. Vale pontuar aqui que adicionalmente ao treino aeróbico, o treinamento de força de forma isolada ou combinado pode ser realizado de forma complementar e trazer benefícios adicionais.

A Organização Mundial da Saúde tem enfatizado a importância de qualquer movimento em nossa vida diária e seu benefício para saúde do coração, física e mental: todo movimento conta e qualquer atividade física é melhor do que nenhuma. Além disso, a atenção à redução do tempo em que passamos sentados e deitados é um aliado importante para a saúde metabólica e cardiovascular. Em suma, para adultos, recomenda-se 150-300 min/semana de atividades moderadas e/ou 75 a 150 min/semana de atividades vigorosas complementadas pelo treino de força, flexibilidade e neuromotor de 2 a 3 vezes/ semana de moderada intensidade.

Comece devagar e dentro dos seus limites, aumente progressivamente a intensidade e o volume da atividade escolhida e procure orientação e avaliação prévia de um profissional de educação física. Faça da atividade física um momento de prazer e  traga movimento à sua vida e vida aos seus movimentos.

Prof. MSc. Bruno Modesto

Educador e pesquisador do HCX Fmusp.

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