Número de casos de Covid em crianças acende alerta no Brasil

Covid-19 em crianças

No início da pandemia do novo coronavírus, o número de casos entre os idosos era o que mais chamava atenção – quadro que foi mudando ao longo do tempo. E diferente do que se pensava, não são somente os mais velhos que têm um sistema imunológico mais frágil: alguns casos de Covid-19 em crianças também podem evoluir gravemente, e é preciso ficar atento, pois os números são preocupantes.

Em 2020, mais de 1.200 mortes por Covid-19 entre menores de 18 anos foram registradas no país. Dessas, 45% foram entre as menores de 2 anos, de acordo com uma análise realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O Brasil é um dos países com maior taxa de mortalidade por coronavírus entre a faixa etária infantil. Fatores clínicos e sociodemográficos ajudam a entender esse cenário, segundo especialistas.

“Do ponto de vista clínico, o que mais importa é a presença de comorbidades prévias (hipertensão, diabetes, problemas renais, entre outras). Em crianças com comorbidades, o risco de internação e óbitos é muito mais alto. Isso não quer dizer que as crianças brasileiras estão mais doentes do que as de outros países, mas aqui elas têm menos acesso ao tratamento e controle da sua patologia. Do ponto de vista sociodemográfico, precisamos levar em consideração fatores como a regionalidade, etnia e desenvolvimento socioeconômico”, explica Dr. Braian Lucas, médico pediatra e doutorando do departamento de pediatria da FMUSP.

Brasil é destaque em triste ranking da Covid em crianças

Um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, em junho de 2021, apontou o Brasil como o segundo país com mais mortes de crianças pela doença. Para chegar ao resultado, eles consideraram os países com mais de 1 mil mortes por 1 milhão de habitantes, e com pelo menos 20 milhões de habitantes. O estudo foi feito com o apoio da Fiocruz.

Assim, considerando-se crianças de 0 a 9 anos, a situação identificada pelo jornal foi a seguinte:

  • No Brasil, a cada 1 milhão de crianças, 32 faleceram de Covid;
  • No Peru, país “campeão” do levantamento, foram 41 por milhão;
  • Em compensação, o Reino Unido e a França tiveram 4 mortes por milhão cada um e, a Espanha, 3.

A reportagem também mostrou que crianças negras morrem mais: seriam 57% do total.

Apesar da Covid-19 em crianças e adolescentes ser assintomática em boa parte dos casos, isso não quer dizer que elas estejam imunes, ou que os casos não possam se agravar. “A doença entre as crianças causa muito menos danos do que na população adulta. O risco de internação por doença grave é muito mais baixo, e os casos de mortes são raros. Mesmo assim, o risco existe e não podemos deixar de proteger nossas crianças”, ressalta Dr. Braian.

Covid em crianças pode ser maior do que nas estatísticas

Podem ser muitos os casos de Covid-19 em crianças que não fazem parte das estatísticas por falta de diagnóstico. Além disso, outra questão enfrentada pela pediatria é a falta de serviços básicos na especialidade.

“Muitos casos são subnotificados, e isso acontece porque no Brasil temos uma testagem muito menor do que a necessária. Além disso, o quadro entre as crianças é menos sintomático. Ou seja, juntamos poucos testes com crianças que apresentam poucos sintomas e temos um número ‘menor’ de casos”, afirma Dr. Braian. “Beneficiaria muito se houvesse mais testagem entre as crianças e uma maior disponibilidade de leito de terapia intensiva no país”, complementa.

Como proteger as crianças da Covid

O meio mais fácil e urgente de ajudar a diminuir a Covid-19 entre as crianças é fazendo o possível para minimizar os casos entre os adultos. Em boa parte dos casos, são os pais, responsáveis e cuidadores que transmite a doença para elas.

“O uso de máscara, distanciamento social e a vacinação em massa são as medidas que mais vão proteger nossas crianças. Também existem medidas específicas entre elas: usar máscara na escola, distanciamento social dentro da sala de aula e evitar aglomerações no ambiente escolar”, orienta Dr. Braian.

A vacinação para combater a Covid-19 entre as crianças menores ainda está em fase de testes, mas os resultados já são animadores. Entre os adolescentes, já existe um plano de vacinação com imunizantes autorizados pela Anvisa. “É superimportante que comecemos a vacinar crianças e adolescentes focando nas vulnerabilidades – doença prévia e indígenas”, conclui.

Enquanto a vacinação não chega para elas, continue realizando todas as medidas de segurança orientadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).