Desafios de quem trabalha com Saúde Mental na Pandemia

saúde mental na pandemia

Além da preocupação constante que devemos ter com a saúde física, nos últimos anos ficou escancarada a questão da necessidade de cuidar da saúde mental na pandemia.  Com prolongados meses de isolamento social, o estresse, a ansiedade e a depressão viraram companheiras na quarentena de muitas pessoas ao redor do mundo, ao mesmo tempo em que psicólogos e psiquiatras se viram altamente requisitados e necessários. Mas, e a saúde mental desses profissionais, como fica?

“Esse panorama é de sobrecarga para este profissional, que se viu desafiado a estabilizar reações psicológicas e comportamentais agudas de seus pacientes (bem como de si próprio), a atenuar angústias, ajudar na recuperação da funcionalidade e promover o enfrentamento do sofrimento, evitando o adoecimento psíquico”, explica a Psicóloga do Trabalho do Instituto de Psiquiatria (IPq), Dra. Miryam Cristina Mazieiro Vergueiro da Silva.

Até os profissionais de saúde, que são treinados para lidar com desastres e situações de crise, tiveram sua saúde mental testada ao limite com a perda de tantas vidas em um curto período. Isso se deu pela exposição a mortes em larga escala e frustração por não conseguir salvar vidas, apesar dos esforços. Soma-se ainda o distanciamento de seus familiares e amigos, o medo de ser o transmissor do vírus para pessoas próximas e a sobrecarga e fadiga a que foram submetidos.

O fato é que a pandemia da Covid-19 foi uma experiência diferente e sem precedentes nesta geração. “Mesmo outras epidemias enfrentadas nos últimos tempos – como H1N1 em 2009, a MERS  (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) causada por outro tipo de coronavírus, mas de proporções muito menores, ocorrida em 2012 e a epidemia de SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome) em 2003 – não tiveram a proporção e repercussão na saúde mental da população como a atual”, conta Dra. Miryam.

“É preciso desconstruir crenças e valores arraigados na área da saúde, de que os profissionais devem ser incansáveis, de que são imunes ao adoecimento, não podem mostrar ‘fraquezas’ e devem dar conta de tudo. Devemos nos tornar cientes de nossas limitações e nos colocarmos como humanos, e não como heróis, buscando ajuda profissional quando necessário”, completa.

Como trabalhar com Saúde Mental

Em um cenário regular, as exigências para que uma pessoa atue na área não são poucas. Além dos conhecimentos acadêmicos, o desenvolvimento de habilidades a partir de suas vivências no mundo social e do trabalho ajudam a moldar seu preparo. Dra. Miryam descreve as principais competências para um profissional da saúde mental:

  • Comunicativas – comunicação interpessoal, capacidade de expressão, prática do diálogo, exercício da negociação;
  • Pessoais – responsabilidade, iniciativa, abertura à mudança, desenvolver autoestima;
  • De cuidado – interação com o paciente respeitando suas necessidades e escolhas, incentivo à autonomia de cuidar de sua própria saúde;
  • Sociopolíticas – compromisso social, ética, cidadania (Siqueira, 2009).

“As habilidades dizem respeito a características pessoais que o profissional utiliza para desenvolver alguma atividade e os auxilia a aprimorar suas competências. Na área da saúde é preciso ser dinâmico, proativo, ter empatia, boa comunicação, ser resiliente, entre outras. É imprescindível, ainda, que esse profissional saiba trabalhar de forma interdisciplinar, compondo a equipe de saúde”, diz a psicóloga.

Autocuidado é o primeiro desafio do profissional da Saúde Mental

Para manter o bem-estar da mente, é preciso desenvolver um estilo de vida saudável e combinar vários aspectos: alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos, lazer, meditação, cuidado com o sono, bom convívio social e familiar, ter um trabalho que traga prazer e realização, entre outros fatores.

Dra. Miryam explica que algumas dicas podem ajudar a atravessar esse período da pandemia, como reconhecer que sentir ansiedade é normal e, ao invés de fugir dela, procurar entendê-la ou conversar com alguém que não desvalorize a vivência; conhecer seus sentimentos; estabelecer uma rotina dentro das possibilidades da quarentena; criar distrações, escolher um hobby, atividades que promovam o bem-estar, dar espaço para o prazer; se conectar com os amigos – apesar das limitações do isolamento social; e manter-se otimista.

“Ao profissional da saúde mental, sugiro um especial cuidado consigo mesmo. Valorize-se, procure ajuda se necessário e busque experiências exitosas para aumentar o cabedal de intervenções possíveis na situação de crise”, completou.

Pós-graduação em Saúde Mental

A educação continuada e atualizada permite ao profissional da Saúde Mental se reconectar com as necessidades dos pacientes, especialmente quando provocadas por ambientes ou momentos difíceis e desafiadores. HCX Fmusp disponibiliza diversos cursos de Especialização para psicólogos e profissionais da Saúde Mental em geral:

Acompanhe o site e os canais de comunicação do HCX Fmusp para saber quando as inscrições para cada Especialização são abertas.