Estudante de Medicina: quais as expectativas e caminhos dos formandos?

estudante de medicina

Entre as tantas mudanças no mundo devido ao coronavírus, a nova forma de conviver em sociedade e as relações de ensino e trabalho são destaques. Empresas viram que o home office realmente funciona, e instituições de ensino pretendem adotar o método de aulas online para além da pandemia. Para o estudante de Medicina que está se formando, há a expectativa com a nova carreira e os desafios em atuar na especialidade após um ano de poucas práticas.

A insegurança durante a fase de adaptação é normal entre os alunos, mas aos poucos o ensino a distância tem sido desmistificado e os lados positivos e negativos do método são avaliados.

De um lado, as aulas gravadas e online possibilitam flexibilidade e melhor aproveitamento do horário disponível para estudo, permitindo que cada estudante siga o seu ritmo; de outro, as interações sociais e a vivência dentro da sala de aula fazem falta. O assunto divide opiniões entre os estudantes de Medicina.

Discussões de caso, antes presenciais, também passaram a ser a distância. “Essas atividades foram as mais prejudicadas, pois acredito que a conexão, a falta de contato visual e de interação prejudicam a realização de debates ricos. A tecnologia torna toda a discussão muito formal, devido à dificuldade de complementar rapidamente falas ou mesmo de interagir de forma não verbal”, comenta Lucas Chinelatto, estudante de Medicina do 5º ano da FMUSP, que pretende atuar na área de Cirurgia de Cabeça e Pescoço.

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Lucas Pontim, estudante de Medicina do 4º ano

Já o aluno do 4º ano defende que os estudantes dos primeiros períodos não precisam frequentar a faculdade presencialmente, já que as aulas são mais teóricas no começo do curso e o método online não influencia na qualidade. “Esse modelo misto serve para repensarmos o nosso sistema de desenvolvimento urbano. Será que todas as pessoas precisam sair de casa todos os dias? Ao ficar em casa, o tempo é mais bem aproveitado, e com isso ganhamos qualidade de vida”, afirma o estudante de Medicina Lucas Pontim.

 

Estudante de Medicina e o aprendizado em casa

Se antes a preocupação era ter um espaço na grade de atividades práticas para que pudessem comparecer em cada aula, hoje o maior desafio é a disciplina para se adaptar e cumprir os objetivos e tarefas dos encontros online.

Acostumados a estudar em grupo, alguns estudantes se sentiram desorientados no começo da pandemia e viram a necessidade de se reinventar.

“Muitos estágios, com suas respectivas aulas e atividades, foram adaptados, de forma que perdemos o parâmetro anterior que tínhamos de expectativas e de referências de nossos colegas (mais velhos ou que já tinham passado pelo estágio). Surgiu uma insegurança muito grande de estar de fato aprendendo o necessário”, desabafa Chinelatto.

A sensação de sobrecarga nos formandos em Medicina também foi um ponto analisado, e o acúmulo de tarefas e informações se dá devido ao medo e preocupação das instituições de ensino de oferecerem conteúdo insuficiente.

É um momento totalmente novo tanto para os discentes quanto para os professores. Como as aulas são gravadas e permitem a flexibilização de horário, nem toda a turma está presente ao vivo, deixando a “sala de aula” mais vazia do que o comum. “O principal desafio do EAD é criar engajamento nos alunos. Fazê-los ligar a câmera e interagir”, afirma Pontim.

Lucas Chinelatto, 5º ano de Medicina

Após a fase de adaptação ao novo sistema, os alunos entrevistados acreditam que o futuro do ensino acadêmico da área médica possa sim ser misto, mesmo após o fim da pandemia, aproveitando os recursos tecnológicos e otimizando o tempo presencial em sala de aula para a realização das práticas.

Chinelatto, por exemplo, já se sente confortável com o novo método e está fazendo um curso de Especialização em Educação na Saúde pelo Centro de Desenvolvimento de Educação Médica (CEDEM). A participação é totalmente online, e na grade existem encontros, debates e todos os recursos da internet são utilizados para a plena interação dos participantes. 

A tecnologia deve ser usada a favor de todos. A educação a distância tem espaço na Medicina, mas, como qualquer modalidade de ensino e área, deve ser analisada e planejada para que os alunos não sejam prejudicados em questão de conteúdo, e para que a qualidade do aprendizado permaneça ao longo do curso.

 

A certeza da carreira na Medicina

No começo da pandemia, alguns alunos da área da saúde de diversas regiões, que já estavam estagiando em internato, se voluntariaram para ajudar na linha de frente do combate ao vírus. Frustração por não poder ajudar, medo por já ser colocado à prova e dúvidas sobre a profissão surgiram em todo o país.

O misto de emoções atingiu Chinelatto e o fez refletir sobre sua atuação, aflorando o lado solidário de cada profissional que atua na área. “A pandemia inclusive me fez ter mais certeza do meu sonho de carreira. Antes tinha muitas dúvidas sobre atuar como médico, realizar pesquisa, tentar uma carreira no exterior. Lembrei da importância da pesquisa no mundo, meu gosto por ela, e o papel fundamental da ciência brasileira. Se antes cogitava sair do país em busca de uma vida mais cômoda, hoje penso em ficar para tentar criar essa vida aqui, para mim e para os outros brasileiros”, conclui.