Desmistificação do câncer colorretal

câncer colorretal

O câncer colorretal é um assunto em alta na medicina brasileira devido ao aumento de sua incidência no país. Ele é o segundo que mais mata no mundo – em 2020, 10 milhões de pessoas foram a óbito por conta da doença – e, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 44 mil novos casos devem ser registrados no Brasil entre 2023 e 2025.

De acordo com artigo publicado na revista Frontiers in Oncology, o câncer colorretal é o de maior aumento projetado nas cinco regiões do país. Atualmente, 80% dos casos são diagnosticados em estágio avançado – a Sociedade Brasileira de Patologia constatou uma queda de 70% de identificação da doença na primeira onda da pandemia, em 2020, o que valida a alta de diagnósticos tardios.

No último mês, o HCX realizou uma live no Youtube para desmistificar o câncer colorretal, com a participação do Prof. Dr. Carlos Frederico Sparapan Marques, diretor do serviço de cirurgia do cólon, reto e ânus do HCFMUSP, e moderação do Dr. Philippe Colares, pneumologista. Segundo o Dr. Carlos Frederico, as mortes acontecem mais em países com baixo desenvolvimento social, entretanto, a incidência da doença é maior em países desenvolvidos.

O Brasil tem um duplo comportamento e é atingido pelos dois fatores. Hoje, 36% dos casos estão no estado de São Paulo, e mais da metade se concentra em sua capital. Neste cenário, tanto a incidência, quanto a mortalidade, estão aumentando. “Muitas vezes, nós nos comportamos como países bem desenvolvidos, com hábitos, vícios e atividades deles. Por outro lado, nós temos um sistema de saúde, de tratamento, como em países pouco desenvolvidos, ou seja, nós temos o pior dos dois lados”, explica o médico.

O que é o câncer colorretal?

O câncer colorretal, que também pode ser chamado de câncer de intestino, abrange tumores que estão localizados na parte do intestino grosso (cólon), no reto (final do intestino) e no ânus. Os principais sintomas estão associados a sangue nas fezes, alteração do funcionamento intestinal, para mais ou para menos, dor abdominal e emagrecimento.

Uma das vantagens em relação a outros tipos de cânceres está no diagnóstico, pois a doença só aparece em cima de uma lesão pré-maligna, chamada pólipo. Com isso, os resultados das prevenções são bons, já que eles são retirados assim que aparecem nos exames.

Dois estágios de prevenção

O câncer colorretal possui três fases de prevenção, em que cada uma corresponde a um período da vida de qualquer pessoa. O primeiro está associado a hábitos saudáveis que influenciam diretamente no não aparecimento dos pólipos no intestino.

A dieta deve ser rica em fibras e pobre em gorduras, dando prioridade a alimentos naturais, como frutas e vegetais. Comidas processadas são vilãs e aumentam as chances da doença aparecer, assim como o consumo de álcool e tabaco. A prática regular de exercícios físicos, o controle do peso corporal e a diminuição do estresse também são fatores importantes da prevenção primária.

A segunda fase está ligada ao rastreamento do câncer colorretal, principalmente a partir dos 45 anos: “Nosso intestino também envelhece, e à medida que ele vai envelhecendo, algumas modificações da sua superfície podem acontecer independente se você come ou não carne processada. Algumas mutações podem levar ao aparecimento dos pólipos”, explica.

Os dois exames indicados são o de sangue oculto nas fezes (mais acessível) e a colonoscopia. Eles permitem identificar precocemente a presença de lesões pré-malignas no cólon ou reto, sendo possível removê-los antes que se tornem câncer, ou identificar a doença em estágios iniciais, quando as chances de cura são maiores. Em caso de sintomas, como sangue aparente nas fezes, o exame do toque retal é o primeiro indicado, seguido da colonoscopia, independente da idade.

A predisposição genética influencia diretamente nas chances do aparecimento do câncer colorretal. Para pessoas com familiares de primeiro grau que tiveram a doença, é recomendado antecipar a idade para realizar a colonoscopia: “Se o familiar teve o câncer aos 40 anos, por exemplo, o exame deve ser feito aos 30”, pontua o médico.

Já a terceira fase é voltada aos pacientes já diagnosticados, para controlar, evitar a progressão e reduzir os impactos na qualidade de vida. Isso inclui cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia-alvo e imunoterapia, dependendo das características do tumor e do estágio da doença.

Tratamentos disponíveis

É fundamental que os pacientes diagnosticados com o câncer colorretal procurem um especialista no tratamento da doença digestiva, como oncologista, cirurgião do aparelho digestivo ou gastroenterologista. Os procedimentos dependem do estágio e da localização do tumor.

Eles podem ser tratamentos locais que envolvem, por exemplo, radioterapia e cirurgia – mas as técnicas estão cada vez menos invasivas, como é o caso da laparoscopia –, e pode ser sistêmicos, como imunoterapia e quimioterapia, que atingem as células cancerígenas em qualquer lugar do corpo.

Para isso, a busca por um profissional altamente qualificado é importante. Segundo o Dr. Carlos Frederico, muitos pacientes relatam ter passado por médicos que não realizaram exames adequados ou ofereceram tratamentos ineficazes.

A busca por marcadores genéticos e a possibilidade de utilizar a biópsia líquida para detectar sinais de lesões malignas ou pré-malignas no sangue estão em curso, pois ajudariam na seleção de pessoas que realmente precisam fazer colonoscopia, otimizando os recursos disponíveis.

Para finalizar, o médico encoraja as pessoas a não negligenciarem seus sintomas e a não acreditarem em tratamentos milagrosos, mas sim confiarem nos profissionais de saúde e seguirem os procedimentos indicados.

“Eu gostaria de deixar uma mensagem de esperança, de fé e de confiança. Essas pessoas que devem buscar o melhor tratamento e o melhor médico. Se você tiver realmente um exame completo, que está tudo direitinho, ponto e acabou, vida que segue. Mas não coloque as coisas debaixo do tapete, porque elas só aumentam”, completa.