Medicina Paliativa traz um olhar técnico e humano aos pacientes e seus familiares

medicina paliativa

Os diagnósticos de doenças mais graves vêm acompanhados de incertezas sobre o futuro e da preocupação em como será o período de tratamento, principalmente quando a expectativa de cura é incerta ou irreal.

Antigamente, não se encontravam maneiras de amenizar o sofrimento; enquanto a medicina se desenvolveu no cuidado aos aspectos físicos da doença, o cuidado ao sofrimento humano mais amplo relacionado a ela ficou em segundo plano. Como retomada a esta necessidade de integrar estes dois aspectos, temos visto grande avanço da medicina paliativa.

Em 2015, a publicação britânica Economist Intelligence Unit divulgou o Índice de Qualidade de Morte (Death Quality Index), em que classifica os países em relação aos cuidados paliativos oferecidos, de acordo com ambiente de saúde, recursos humanos, qualidade do cuidado, formação de profissionais, entre outros. Foram analisados 80 países e o Brasil apareceu na 42ª posição, abaixo de outros países da América Latina, como Uruguai e Argentina.

O tema precisa de um debate maior, principalmente envolvendo políticas públicas. No Brasil, por exemplo, estima-se que somente 0,3% das pessoas que morrem anualmente têm acesso à medicina paliativa. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), uma parcela expressiva de pacientes com câncer inicia o tratamento sem chances de cura e, ainda assim, não são encaminhados para as equipes de Cuidados Paliativos.

Afinal, o que são os cuidados paliativos?

A medicina paliativa utiliza uma abordagem multiprofissional que visa melhorar a qualidade de vida de pacientes, familiares e cuidadores, que estão próximos ao sofrimento multidimensional relacionado a conviver com doenças graves. Isto se faz a partir de uma avaliação minuciosa, que leva em consideração os aspectos humanos, psíquicos, físicos e espirituais.

A equipe multiprofissional deve trabalhar de maneira integrada e levar em consideração os princípios gerais, que são: promover qualidade de vida e entender a morte como um processo natural; propiciar um tratamento que possibilite o acometido a viver o mais ativamente possível, integrado à sociedade; e que os aspectos citados anteriormente sejam incluídos neste cuidado, independente da fase de evolução da doença. “O tratamento é feito a partir desse trabalho integrado, do diagnóstico do sofrimento das pessoas e de um planejamento, de um plano de cuidado individualizado, que é traçado pela equipe e pelo paciente e sua família”, afirma o Dr. Ricardo Tavares, Médico Coordenador do Núcleo de Cuidados Paliativos do HCFMUSP.

Indicações da Medicina Paliativa

Engana-se quem pensa que a medicina paliativa só é uma opção no estado muito avançado da doença; ela deve ser instituída logo no diagnóstico, para que o sofrimento seja amenizado, e juntamente com o tratamento modificador da doença – já que a cura nem sempre é possível por se tratar de uma condição crônica.

Mesmo sendo indicada para diagnósticos de doenças potencialmente graves e ameaçadoras de vida, a pergunta que deve ser feita não é ‘o paciente tem indicação?’, mas sim ‘quais são as medidas paliativas a serem instituídas para o doente?’. “O que define isso não é prognóstico de doença, não é o tipo de doença, mas sim as necessidades individuais deste paciente e desta família no enfrentamento de uma condição de saúde grave”, afirma.

Essa abordagem pode ser realizada em casa, em uma UTI, em ambulatórios e em hospitais especializados ou não (complexos e não complexos), sendo que a necessidade principal é ter uma equipe bem treinada para equacionar tecnicamente as adversidades. Neste caso, não se trata somente de recursos tecnológicos, mas de recursos humanos mais especializados e uma estrutura que atenda todas as demandas.

É necessário compreender que a interação idealmente sempre é feita conjuntamente com os especialistas, que referendam os seus pacientes aos paliativistas. Isto não exclui que algum procedimento específico e até mesmo cirurgias possam ser realizadas – tudo depende da pertinência da técnica, em conjunto com os valores pessoais dos pacientes e suas famílias num processo de decisão compartilhada. “Algumas coisas perdem sentido ao longo do tempo; outras ganham força. O foco é sempre centrado na pessoa, na sua família e na promoção de qualidade de vida”, pontua.

Especialização em cuidados paliativos

A especialização em medicina paliativa pode ser feita por qualquer profissional da saúde com curso superior. Entretanto, princípios do cuidado, comunicação e algumas técnicas específicas são do alcance também de profissionais de nível médio.

O profissional deve entender que o trabalho em equipe é primordial, assim como lidar com pacientes e demandas mais complexas, como a comunicação de uma maneira empática, afetiva e acolhedora. Todas as especialidades trabalham juntas, seja médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, dentista, entre outros.

“Todos eles têm uma gama de conhecimento geral que é para todos, que envolve trabalhar em equipe e ter um conhecimento especializado dentro da sua profissão para prestar o cuidado com esse foco”, finaliza Dr. Ricardo.

Imersão em Cuidados Paliativos

O HCX Fmusp, Braço educacional do HCFMUSP, disponibiliza o curso de Imersão em Cuidados Paliativos – Multiprofissional, sob coordenação dos Drs. Ricardo Tavares e Sumatra Melo da Costa Pereira Jales. Destinado para quem quer conhecer a experiência da medicina paliativa dentro do maior complexo hospitalar da América Latina, e também para iniciar ou complementar o conhecimento na área.

Sendo presencial, todas as atividades envolvem o acompanhamento do trabalho prático do Núcleo Técnico Científico de Cuidados Paliativos, com observação e participação nas rotinas do serviço nas áreas de Interconsulta, Ambulatório e Unidade de Internação de Cuidados Paliativos.

A experiência pode durar até um mês e garante certificado emitido pelo HCX. Acesse a página do curso para mais informações.