ChatGPT: inteligência artificial e suas utilizações na saúde

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O mundo está cada vez mais conectado – não há dúvidas disso. Se antes era difícil se comunicar com alguém que estava a poucos quilômetros, trocar mensagens com quem reside do outro lado do mundo era inimaginável. 

A revolução digital começou a partir da década de 1980 e, desde então, as novidades tecnológicas só se intensificam e nos colocam em um novo patamar de comunicação. Recentemente, a OpenAI criou o ChatGPT, um modelo de linguagem de inteligência artificial baseado na arquitetura GPT (Generative Pre-trained Transformer). 

Com um treinamento em uma ampla variedade de dados de texto, ele tem a capacidade de entender e gerar linguagens naturais em vários idiomas. A plataforma pode ser utilizada para responder perguntas, desenvolver textos e imagens, traduzir idiomas, entre outras tarefas relacionadas, de atendimento até educação e pesquisa. Sendo assim, como o ChatGPT pode se encaixar na área da saúde?

O funcionamento do ChatGPT

A ferramenta deve ser acessada através do navegador ou pelo próprio aplicativo. O usuário pode fazer perguntas ou fornecer comandos a partir da caixa de texto, e o ChatGPT responderá da melhor maneira possível com base em seu treinamento. 

Para que a resposta seja refinada e precisa, é importante que a mensagem seja passada de maneira clara e específica – quanto mais informações o usuário der, melhor será o retorno.  Mesmo assim, deve-se lembrar que, por ser uma inteligência artificial, não é uma fonte de conhecimento incontestável. Ele pode ser limitado em sua compreensão de certos tópicos ou em sua capacidade de responder a perguntas complexas ou abstratas. A checagem em outras fontes confiáveis é fundamental para que a plataforma seja utilizada com segurança.

“Um termo técnico da área é ‘alucinação’, que eles utilizam para descrever quando a máquina produz informações que não existem. Ela tem uma tendência de inventar fontes, citações, links e números”, pontua Luciano Ramalho, professor e programador da Thoughtworks Inc. 

Utilização do ChatGPT na saúde

O ChatGPT, por apresentar informações rápidas a partir de um extenso banco de dados, também pode ser útil na área da saúde e facilitar algumas atividades no dia a dia do profissional. Para isso, ele precisará se adequar à sua utilização.

O InovaHC, por exemplo, já conta com um laboratório de inteligência artificial há três anos, feito em parceria com a Siemens, que está aberto a novos projetos na área da saúde. Segundo o Prof. Giovanni Cerri, presidente do conselho do InovaHC, só para a radiologia, a IA melhorou a produtividade dos radiologistas e a precisão diagnóstica, resultando em mais segurança ao paciente. “Eu vejo o ChatGPT como um excelente instrumento que pode ajudar na produtividade, principalmente em consultas, mas tudo isso tem que ser avaliado em relação ao seu conteúdo, afinal, quem assina laudo é o profissional”, comenta.

Para o Dr. Chao Wen, chefe da disciplina de Telemedicina, da Faculdade de Medicina da USP, uma das coisas mais interessantes da ferramenta é a capacidade de estabelecer um diálogo em nível de conversa informal, com a utilização da linguagem natural – ela deixa de ser apenas para pesquisa e consulta. Entretanto, o seu banco de dados é geral e, para ser utilizado na saúde, seria necessário licenciar o algoritmo do próprio ChatGPT para olhar para uma base de dados indexada de evidência científica. 

Além disso, para garantir a segurança do que é informado e de como essa informação é levada, é necessário uma profissionalização de gestão, não somente do algoritmo, mas também das bases estratégicas, assim como definir as responsabilidades das decisões tomadas. Dessa forma, e com todas as atualizações necessárias, é possível pensar na ferramenta como parte integrante da área, considerada um “Waze da saúde”, como chamou o Dr. Chao. Por exemplo, a partir de suas casas, o paciente poderia acessar sobre cuidados no uso do seu medicamento, efeitos colaterais, cuidados sobre questões de pré-exame, entre outras orientações básicas.

Com isso, o ChatGPT serviria como uma unidade de fronte da interação constante com os pacientes de uma forma natural, mas sempre com a supervisão de uma equipe bem treinada, aumentando a capacidade de telemonitoramento e de gestão de pessoas em domicílios. Pensando em longo prazo, todo o processo de atendimento pode ser integrado, e pode ser essencial para o futuro de uma cidade, por exemplo, em que as casas serão consideradas moradias inteligentes. Assim como no Brasil, o envelhecimento populacional é uma realidade em diversos outros países e a inteligência artificial será fundamental para ajudar na logística de saúde. 

Cuidados com o paciente

A pergunta “quais são as aplicações possíveis em que posso te utilizar para fazer o cuidado dos meus pacientes no hospital?” foi uma das feitas pelo Prof. Carlos Carvalho, diretor de Saúde Digital do Hospital das Clínicas, ao ChatGPT. Por reconhecer as suas limitações, ele já avisou ao fim do texto que o usuário deveria se lembrar que estava lidando com uma ferramenta de suporte aos profissionais, que não substitui a experiência e o julgamento clínico. 

Apesar de todos os erros que ainda comete, ele pode ajudar trazendo algumas informações a respeito de diagnósticos diferenciais e, como ele tem acesso a uma base de dados muito grande, ele pode auxiliar em prescrições de medicamentos. “Como especialista em pneumologia, por exemplo, se eu tiver um paciente que tem um problema respiratório e está com a diabetes descompensada, se eu precisar orientá-lo e não souber ou não estiver atualizado, eu posso pedir para o chat me trazer as informações do consenso atual da Sociedade Brasileira de Reumatologia para cuidar daquela situação. Ele pode me auxiliar no monitoramento de sinais vitais; se tiver, eu posso colocar um prontuário eletrônico”, exemplifica o Prof. Carlos.

Dessa forma, o ChatGPT propicia benefícios tanto ao paciente, quanto ao profissional da saúde, como a economia de tempo, ao deixar a inteligência artificial resolver questões mais simples de maneira automatizada. O médico passa a dar prioridade para casos mais críticos, enquanto atualiza o prontuário com orientações personalizadas para cada paciente, em termos de mudanças de hábitos, atividade física e alimentação.

A discussão sobre o ChatGPT na saúde foi realizada online, em março, no canal de Cultura e Extensão FMUSP. O encontro também serviu para o lançamento do curso de extensão “Entendendo o ChatGPT na Saúde – Impactos no Ensino Médico, Pesquisa e nos Cuidados com o Paciente” – o formulário de pré-inscrição está disponível aqui.