Comunicação de más notícias: como fazer?

Médico fazendo a comunicação de más notícias

Não existe uma fórmula definitiva de como fazer a comunicação de más notícias na área da saúde. Então, como transmitir informações sobre diagnósticos, prognóstico e tratamentos de maneira clara e empática para pacientes e suas famílias? Ou como abordar situações de perda e luto?

Nesta conta, é preciso equilíbrio. “O grande desafio é como balancear empatia com franqueza para chegar em um objetivo comum”, aponta o Dr. Daniel Neves Forte, médico intensivista, paliativista e livre docente de Bioética pela Faculdade de Medicina da USP, e supervisor da Unidade de Cuidados Intensivos da Emergência do Instituto Central do Hospital das Clínicas FMUSP (ICHC). 

Vale lembrar: a comunicação de más notícias é mais do que uma mera obrigação dos profissionais de saúde. Ela é essencial para garantir que os pacientes e familiares entendam o quadro e atuem em prol dos cuidados e tratamentos adequados, sejam paliativos ou não. Na situação de perda, a comunicação eficaz e empática é essencial para evitar que o momento se torne ainda mais doloroso.

Protocolo SPIKES em desuso

Criado em 1992, o protocolo SPIKES (acrônimo em inglês que orienta seis etapas da comunicação de uma má notícia), embora seja o mais conhecido, apresenta significativas limitações que dificultam sua utilização.

Uma de suas limitações mais importantes refere-se ao papel das emoções na comunicação. O protocolo aborda as emoções como uma resposta às informações recebidas, mas na prática, nem sempre é assim. Em muitos casos, antes mesmo do profissional começar a falar, as emoções do paciente e do familiar já estão à flor da pele. Neste cenário, a informação transmitida sequer é ouvida.

“As questões cognitivas funcionam bem quando existe um mínimo de sintonia emocional. Mas quando as pessoas estão com muito medo, é como se o lobo frontal do cérebro da pessoa apagasse. Sem o lobo frontal é impossível planejar e avaliar risco e benefício. As pessoas reagem em modo luta ou fuga, tudo ou nada”, explica Dr. Daniel Neves Forte.

Ou seja, a forma como a notícia é comunicada pode influenciar nas ações seguintes tomadas pela família. Portanto, a comunicação precisa ser empática, para então ser  compreendida pelos pacientes.

Diante das mortes na pandemia da Covid-19 e dos casos críticos, foi criado um novo protocolo de comunicação de más notícias. “Este novo modelo começou no HCFMUSP, evoluindo para uma parceria com Harvard – onde também é ensinado atualmente”, pontua o especialista.

Novo modelo de comunicação de más notícias 

O novo modelo de comunicação de más notícias incorpora o conhecimento da neurobiologia das emoções à comunicação em saúde. 

“A neurobiologia nos revela que as emoções fornecem pistas para o comportamento adequado em resposta aos desafios do ambiente, sinalizando de maneira rápida e automática perigos ou vantagens. Só depois vem as cognições e justificativas”, explica.

Ou seja, para conseguirmos transmitir de maneira adequada uma informação, “primeiro precisamos acalmar o medo do paciente e familiar, e só depois disso, abordar a discussão dos passos seguintes”, destaca o médico intensivista e paliativista.

Ele ainda aponta que é possível observar o comportamento dos animais para compreender o ser humano. Mamíferos sociais consolam um integrante do grupo que perdeu uma disputa, e eles fazem isso ressoando emoções. 

“Essa ressonância afetiva é muito instintiva, algo que ocorre naturalmente, como a mãe faz com o recém-nascido, por um instinto biológico. O nosso foco tem sido ensinar os profissionais de saúde a incorporarem essa abordagem, para então desenvolverem as técnicas de transmissão de conteúdo cognitivo e, ao final, construírem um objetivo comum e um planejamento de cuidados”, finaliza. 

Curso de Comunicação em Situações Críticas

O HCX Fmusp oferece o curso Comunicação em Situações Críticas, que apresenta o novo modelo de abordagem desenvolvido durante a pandemia. A formação discute os desafios da comunicação em contextos emocionalmente carregados e ensina os passos da comunicação empática e assertiva em situações de estresse.

A proposta é criar um curso acessível, para alcançar um amplo público e democratizar um método eficaz de comunicação de más notícias, assunto nem sempre abordado nas universidades. 

“É um curso breve, com duração de cinco horas. Sendo assíncrono, o participante tem a flexibilidade de assistir quando for mais conveniente, sem a necessidade de seguir um horário específico ou concluir de uma só vez. Estamos empenhados em garantir um preço acessível, visando ampliar o alcance do curso para atender às necessidades de diversos interessados”, reforça o Dr. Daniel Neves Forte, coordenador da formação. 

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