O luto e a gama de reações e emoções

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Durante a vida, experimentamos diversas situações que nos levam a uma tristeza profunda. A morte é uma das principais, mas outros rompimentos de laços, como separação, também podem desencadear esse tipo de sentimento, chamado de luto.

Apesar de ser uma condição comum a todos, a solidão pode se fazer presente, pois não tem como o outro saber exatamente quais são os sentimentos e as sensações que o acometido nutre. Em pesquisa encomendada pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), e realizada pelo Studio Ideias, em 2018, 82% dos entrevistados pontuaram que nenhuma dor é tão sofrida quanto a da perda.

Como definir o luto?

O luto é uma reação emocional normal e esperada diante de perdas e situações de estresse; é o organismo reagindo a momentos traumáticos, que envolvem tristeza e sofrimento. Esse processo complexo, que também pode apresentar mudanças cognitivas e comportamentais, acontece para que a aceitação seja o ponto final – apesar da dor, o luto deve ocorrer de maneira saudável. 

Os sentimentos são individuais e cada pessoa reage de uma maneira, principalmente, de acordo com o momento que a perda aconteceu: “Se falarmos, por exemplo, da morte da mãe, vai ter uma diferença enorme se é uma criança de 5 anos ou uma pessoa de 50 anos. Depende também de qual foi a natureza do trauma da perda, do momento e das condições daquele indivíduo”, pontua o Dr. Guilherme Polanczyk, Chefe do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência, do Instituto de Psiquiatria, do HCFMUSP.

Além da morte, perdas não físicas também desencadeiam o luto, por exemplo, quando uma criança troca de escola – estar longe dos amigos e passar pela ausência de suas relações também são considerados luto emocional.

As fases do luto

Devido às intensas emoções que o luto proporciona, a teoria da psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross pontua as suas cinco fases:

  • Impacto/negação: durante a primeira fase, o acometido não se dá conta do que de fato aconteceu, e vive com um mecanismo de defesa, uma espécie de amortecimento;
  • Raiva/tristeza: a segunda fase é frequentemente marcada por sentimentos de raiva, ressentimento e frustração em relação à situação da perda. É comum a pessoa se sentir irritada com a pessoa que morreu, com um sentimento de injustiça;
  • Barganha: a terceira fase é quando a pessoa tenta encontrar maneiras de negociar com a situação, buscando uma forma de evitar a perda ou amenizar a dor. Por exemplo, deixar de vivenciar tais situações ou frequentar certos lugares que lembram a pessoa, pois assim o sentimento não aparece;
  • Depressão: a quarta fase é caracterizada por uma sensação de tristeza profunda, desespero e desesperança, em que a pessoa pode se sentir desamparada;
  • Aceitação: a última fase do luto é a aceitação, em que a pessoa começa a compreender e aceitar a realidade da perda.

O luto na área da saúde

Para lidar com a situação na área da saúde, é fundamental entender que o luto é um processo comum – dessa forma, não se pode esperar que a pessoa não sinta tristeza, raiva ou outras reações conflitantes. “Devemos orientar para que o luto realmente seja vivido. Normalmente, as pessoas se assustam ou já querem tirar o pensamento sobre aquilo, mas é importante pensar que é um processo normal e esperado”, aconselha.

Com essa conduta, somada a empatia dos profissionais, que não tem curso de aprendizado, mas que vem de um lugar humano, a pessoa consegue passar pelo processo e alcançar rapidamente a integração e aceitação. Além disso, é possível promover os cuidados paliativos adequados para que essa passagem seja mais pacífica, tanto para o paciente, quanto para os familiares.

Quando o processo de luto já ocorre antes da morte, por mais doloroso que seja, tem chance de questões serem trabalhadas para amenizar o trauma, que é praticamente impossível em perdas inesperadas: “Com o cuidado apropriado, o luto tende a se resolver de uma forma mais positiva”, comenta.

Cuidar da saúde mental de amigos e familiares que foram pegos de surpresa por situações mais delicadas, como a morte de crianças e adolescentes, suicídio e homicídio, também faz parte da medicina paliativa. Os sentimentos que surgem são difíceis de lidar, e a recuperação pode acontecer com a intervenção de psicólogo e psiquiatra. 

Para os profissionais que estão começando nessa área, é importante frisar que para cuidar da saúde mental do outro, também é necessário cuidar da sua própria: “É fundamental que as pessoas tenham um espaço individual diferente do trabalho, para que possam lidar e entender as suas dificuldades. A saúde mental vai ser muito exigida, principalmente por ser um mecanismo ou uma ferramenta de trabalho, no sentido de entendimento dos estados emocionais dos outros, de percepção de situações. Ter a capacidade de olhar para o outro, mas com conhecimento sobre si mesmo, é primordial”, finaliza.