O que é medicina do trabalho?

A área da saúde é composta por diversas especializações, que abrangem todas as necessidades da sociedade. Ao todo, são 55 especialidades e 59 áreas de atuação. Uma delas é a medicina do trabalho, que atua diretamente na relação entre o trabalhador e sua ocupação.

Este segmento é voltado para a saúde coletiva, em que o objeto de estudo é a forma como as pessoas se relacionam com o seu ambiente de trabalho e como a empresa mantém esse ambiente saudável. Engana-se quem pensa que a medicina do trabalho é voltada apenas para assinar atestados – a área é ampla e complexa, pois abrange trabalhadores de diversos e diferentes campos e ramos de atividades, desde o químico, metalúrgico até o próprio profissional da saúde, além de lidar com as relações sociais e avanços tecnológicos.

Nela, o trabalho é visto por etapas como: processo, método, organização, posto e ambiente psicossocial, chamado de “chão de fábrica”. Segundo Dr. Marcelo Pustiglione, um dos professores e coordenadores acadêmicos do curso de Especialização em Medicina do Trabalho do HCFMUSP, só é possível realizar uma boa gestão neste setor se este ‘chão de fábrica’ for devidamente conhecido e explorado, pois é fundamental entender como são as relações neste ambiente.

Como é a atuação na medicina do trabalho?

A medicina do trabalho utiliza, além de outros campos do conhecimento, a epidemiologia clínica como recurso de abordagem. A aplicação do método consiste em privilegiar as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças e agravos, como os acidentes e as doenças do trabalho. “Ela cuida de todas as dimensões da saúde humana que são trazidas para dentro do contexto do trabalho. Nem todas são originadas neste ambiente, mas podem estar associadas a outras situações paralelas que contribuem para o adoecimento no trabalho”, pontua Dr. José Wilson, também professor e coordenador acadêmico do curso.

O objetivo é identificar os agentes de risco ocupacionais, que levam ao adoecimento do trabalhador, conhecer a dinâmica patológica e criar um programa/plano para evitar o acometimento. O Programa de Controle Médico da Saúde Ocupacional (PCMSO) é responsável por controlar a saúde dos trabalhadores, com exames periódicos e sistemáticos, avaliados comparativamente, a fim de um possível diagnóstico precoce e tratamento adequado de doenças e agravos relacionados ao trabalho (DART).

Pensando em suas particularidades, é importante considerar que o médico do trabalho é generalista, voltado a uma população particularizada, e que nunca age sozinho. A interdisciplinaridade é primordial para compreender a saúde do trabalhador, já que nem sempre a doença do trabalho é voltada a um único fator. Outras profissões, como engenheiro, técnico de segurança do trabalho, e mesmo outras áreas da saúde, como fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, e outras especialidades médicas, podem também fazer parte do escopo para melhor compreensão das situações.

A questão socioambiental também é de responsabilidade dessa equipe, pois ela precisa identificar como a atividade impacta no ambiente externo, sendo exemplos claros o descarte de resíduos hospitalares e o uso de agrotóxicos nas plantações.

Legislação da área

Por se tratar do trabalhador e suas relações dentro do ambiente de trabalho, a medicina do trabalho deve seguir uma rigorosa legislação para que todos os direitos e deveres sejam atendidos. As constantes atualizações dessa relação fazem com que novos adoecimentos surjam, e é importante que o especialista esteja preparado para enfrentar os novos desafios. “Na prática, o médico do trabalho é muito solicitado internamente pelo jurídico das empresas. Então, precisa estar formado para saber até que ponto ele pode ir, saber das questões éticas e ter conhecimento para fazer o certo”, comenta Dr. Marcelo.

A legislação para esse setor se divide em três eixos:

• Trabalhista: o empregador deve oferecer a melhor condição de trabalho, de forma que as leis sejam consolidadas. As normas regulamentadoras também definem os critérios que devem ser adotados pelas empresas para atingir os objetivos abordados anteriormente;
• Previdenciário: o trabalhador assegurado pela Previdência Social tem alguns auxílios que devem ser cumpridos pela empresa. Em caso de doenças provenientes do trabalho, o médico deve providenciar a documentação necessária para que o indivíduo passe pelo perito e receba o seu benefício;
• Político-assistencial: a política nacional de segurança da saúde do trabalhador e da trabalhadora passou a ser responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), por lei. Além disso, o trabalhador passou a ser compreendido como qualquer pessoa que de fato trabalhe, mesmo que de forma informal – todos têm direito ao acesso às ações e promoção da saúde.

“O serviço do médico do trabalho obedece a várias entidades, como o Ministério do Trabalho; ele também é fiscalizado pelo Ministério da Saúde e Ministério da Previdência Social. Além desses, ele tem relação com o Ministério da Justiça e, por fim, ele tem que prestar contas para o Conselho Regional de Medicina. As atividades deles são regidas pelo código de ética médica, como uma série de procedimentos médicos, que estão direcionados para a saúde do trabalhador. O médico também é regido pelo próprio trabalhador, prestando serviço para ele e para a empresa”, conclui Dr. Wilson.

Especialização em Medicina do Trabalho

O curso de Especialização em Medicina do Trabalho do HCX, proporciona a formação para desenvolvimento de atividades na especialidade, que foca na saúde do trabalhador tanto em instituições privadas, quanto públicas. “Nosso curso tem a duração de dois anos, com uma carga horária que representa 50% da residência médica. Temos alunos que atuam em grandes empresas do Brasil e também do exterior”, pontua Dr. Marcelo.

O objetivo da pós-graduação é estimular atitudes que visem a prevenção dos riscos à saúde dos trabalhadores, a preservação do meio externo, a busca contínua por atualizações e a capacitação para exercer a função com base na Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

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